Os sentimentos são complexos, as palavras do nosso português nem sempre colaboram com nosso discernimento, afinal elas estão escondidas, vivendo no dicionário e nossos conhecidos pouco fazem questão de usa-las. E entre sinônimos perdidos estamos expostos a muita competição, metas, horários e disciplina - quem não tem disciplina para se exercitar e comer corretamente está fadado à autopunição constante.
Gabriel voltou feliz e disposto de sua caminhada matinal, mas ao chegar em casa se deparou com uma postagem do seu melhor amigo Carlos em um resort na costa leste americana. A postagem fez com que o semblante de Gabriel ficasse pálido e lá via-se a esposa e filhos felizes, enquanto os seus, vidrados no celular. O que ele estava sentindo? Raiva da injustiça do mundo? Afinal ele sempre fora mais esforçado que Carlos, nunca havia traido sua esposa como fizera o amigo. Ou teria ele se deparado que o que tinha conquistado era insuficiente? Gabriel pensou que deveria ter se casado com uma pessoa mais parecida com a esposa do amigo, afinal ela o incentivava a fazer investimentos, e agora olhava para sua esposa com cara de dúvida.
O nome desta sensação seria inveja? Não pode ser, a inveja é absolutamente condenável, .
É interessante observar como uma foto pode alterar completamente o humor de uma pessoa que está há quilômetros de distância e desencadear uma série de reações que negamos existirem dentro de nós. Ao negarmos e nos distrairmos com outros hobbies e atividades, nutrimos a sensação de que está afastado aquele confronto com o incômodo. Mas ela não está, apenas guardada no fundo de nossas mentes, somando à outros sentimentos recalcados que urgem em voltar.
E acontece diariamente, os sentimentos recalcados por anos retornam para atribular a paz do sujeito, mandando uma mensagem "agora você está pronto para lidarmos com esse antigo amor?", "você está se transformando na mesma figura autoritária que lhe criou?"... O senso de impotência de lidar com estes problemas expandidos faz com que a pessoa reaja de diversas formas, se isole, fique agressiva, depressiva ou até mesmo procure soluções para se anestesiar de tal pressão...
O que tento explicar aqui é como o que começou como inveja do seu irmãozinho aos 3 anos de idade, pode ocasionar em uma gama de sentimentos contraditórios na sua vida adulta.